quarta-feira, 8 de abril de 2009

O surdo precisa ver

Rio,08/04/2009
A criança surda receberá mais informações através do canal visual.A visão atua apenas para frente, por isso ele precisará se dirigir para a fonte de informação, diferente do ouvinte que recebe as informações de todos os lados, através do canal auditivo. Ouve-se até sem querer mas para ver é necessário olhar. Exemplo disto foi o relato do surdo Silas Q, a Revista Espaço do INES, 1999, p.71," Prestava atenção aos lábios dos outros. Uma vez, minha mãe me pediu para comprar batatas. Eu olhava bem para as batatas e pensava na batata. Pedia várias vezes ao vendedor e ele não entendia e peguntava:-O que quer? (...) Eu mostrava a batata, mas ele não entendia.Eu ficava muito nervoso e desistia.Ía embora chorando."
Para entender um pouco o que ele sentiu você pode experimentar e assistir seus programas de TV preferidos, sem som. Durante uma ou até várias horas e perceber se consegue entender o que está acontecendo.
Segundo o Dr Vítor da Fonseca,para suprir a ausência da audição o surdo procurará nos outros sentidos recuperar essa comunicação com o mundo. Além da visão, seu principal sentido, observará com mais detalhes as expressões corporais, movimentos e sequência de movimentos, e cita " A análise do corpo como instrumento superior de comunicação, evocará a mímica, a gestualidade e a imitação intencionais como alicerces sensoriais e motores da aprendizagem não-verbal"(Anais do Congresso do INES, 2004, p.29).
Silas Q. continua na sua entrevista citada acima, "Eu me sentia sozinho e tudo que eu consegui aprender foi através da minha percepção do mundo, que desenvolvi sozinho, comigo mesmo".
Outra questão importante, é a privação social que o surdo é submetido, segundo Sack (1990), relatando a experiência com Joseph em seu livro Vendo Vozes, conta que a aflição dele em deixar a escola era angustiante, porque voltar para casa significava voltar ao silêncio para a não comunicação, o qual seria o mesmo que ser ignorado, e ser uma não-pessoa.
Segundo Claudia Bisol (2004), muitos pais não conseguem se comunicar com seus filhos e que por isso, seus filhos acabam vivenciando uma espécie de marginalidade cultural dentro de sua própria família. Nesse mesmo pensamento, relata Carlos Sckliar (1997), os surdos dizem se sentir estrangeiros em seu próprio país, ou forasteiros, ou exilados. Por isso continua ele, há a necessidade de se valorizar e difundir a importância da Língua de Sinais, para que o surdo possa interagir e se desenvolver como ser humano.