terça-feira, 23 de junho de 2020

Pequeno resumo histórico sobre o INES

O INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) foi criado no Segundo Império, período que se iniciou com o Golpe da Maioria, em 1840, e se prolongou até 1889, por ocasião da Proclamação da República. 

Em 1855. Hernest Huet, francês, chegou ao Brasil com a intenção de fundar uma casa de abrigo e ensino para surdos. Sendo ele portador de surdez congênita, aluno do Instituto Nacional de Paris, e acreditando que a deficiência auditiva não seria impeditiva para o processo educacional, obteve apoio para a criação do educandário. Auxiliado pelo Imperial Colégio Pedro II, conseguiu, mesmo que para funcionamento provisório, uma sala no Colégio Wassiman (Rua Municipal n.6, no centro do Rio de Janeiro), onde ficou funcionando o Instituto dos Surdos-Mudos com uma menina e um menino de, respectivamente, 12 a 10 anos. Essas duas crianças foram mantidas nesse colégio, mediante bolsa de estudos pagas pelo governo imperial. 

Por determinação do Imperador, ao Marques de Abrantes coube a tarefa de supervisionar os trabalhos de Huet e de formar uma comissão de pessoas responsáveis, a fim de promover a fundação de um instituto para educação de surdos-mudos. Esse fato ressalta a importância que o Imperador atribuiu à proposta de Huet.

Posteriormente, foi arrendado um prédio na Ladeira do Livramento n.8, na mesma região da capital, onde foi instalado o instituto. Somente em 1913 foi contratada a construção do atual prédio, projetado pelo arquiteto Gustav Lully, cuja inauguração ocorreu em 1915. O prédio, construído em estilo neoclássico, seguiu os princípios básicos da arquitetura em instituições oficiais federais, do início do século.

Para melhor compreendermos a proposta educacional de Huet, apresentamos o programa de ensino adotado por ele, em 1856: Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, leitura sobre os Lábios (para aqueles com aptidão) e doutrina Cristã. Neste programa, já se delineava a preocupação com o ensino especial, observando uma proposta oralista implícita nas disciplinas de Linguagem Articulada e Leitura sobre os Lábios. 

Essas abordagens ganharam força a partir de 1878, quando foi realizado o I Congresso Internacional de Ensino de Surdos-Mudos, consolidados em 1880, no II Congresso realizado na Itália, onde  o método oral era recomendado nos programas de ensino especial.

A proposta do oralismo, que emergiu deste congresso realizado em Milão, norteou toda a proposta curricular do INES, durante muitas décadas. Interessante observar que, sendo o INES uma escola só de surdos, a comunicação gestual, embora proibida, nunca deixou de existir.

A linguagem sinalizada, hoje identificada como língua, LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), teve sua gênese aqui no Brasil, no Instituto, desenvolvida na convivência entre alunos. A rigor, as discussões que hoje contemplam a escolaridade das pessoas surdas, são as mesmas de quase dois séculos. O que ficou deliberado no Congresso de Milão foi absorvido de forma radical por vertentes oralistas e, com muitas resistências, pela vertente dos métodos mistos.

No início da década de 50 o INES promoveu o primeiro "Curso de Formação de professores para Recuperação de Deficientes da Audição e da Linguagem Falada", na gestão da professora Ana Rimoli de Farias Doria. Esse curso é um marco na história da educação de surdos no Brasil, já que, anteriormente os professores eram autodidatas ou formados no exterior. A partir desta inciativa, os professores passaram a ter formação em educação especial.

No final da década de 70 a filosofia de Comunicação Total chega ao Brasil, oriunda dos EUA e influencia alguns profissionais da área. A constatação de muitas dificuldades na realização da escolaridade do aluno surdo, reconhecida pelo corpo docente, e a necessidade de superá-las, levou a direção do INES, em 1986, a desenvolver uma pesquisa com o objetivo de analisar a aplicação de diferentes alternativas educacionais, identificando assim a vertente mais adequada para a  escolarização dos alunos do INES. A Filosofia da Comunicação Total e o Método Audiofônico foram comparadas com a alternativa do Método Multisensorial utilizado no INES.

No relatório do período em que se realizou-se a pesquisa concluiu-se que as alternativas em questão mostraram-se bastante eficientes em seus resultados ressalvando apenas o fato de que as diferenças encontradas revelaram aspectos específicos priorizados no trabalho de cada uma.

 Em 1993, foi criado o GINES (Grêmio dos alunos do INES). A atuação dos alunos é bastante significativa, participando, inclusive, de instâncias deliberativas da instituição. Por sua vez, em 1994, foi aprovado o novo Regimento para a Instituição que passou a ser gerido pela Direção Geral com a participação de um Conselho Diretor. Ainda neste ano, em consonância com esse Regimento, foi realizada pela primeira vez eleições diretas para a Direção do INES.

Atualmente, o INES, através de estudos e reciclagem de seus profissionais, busca implementar a proposta educacional do Bilinguismo em um segmento de seu Colégio de Aplicação.

O INES tem como finalidade, além de promover a educação de pessoas surdas e a preparação e o encaminhamento para o trabalho, fornece subsídios à formulação da Política Nacional de Educação especial, realiza diagnóstico, adaptação de aparelho de ampliação sonora individual, avaliação periódica de seus alunos e da comunidade geral, faz avaliações audiológica infantil e Tonal (adultos), timpanometria e ganho de inserção da prótese auditiva. Realiza anualmente um curso de Estudos Adicionais (CEAD), oferecido a todas as Secretarias de Educação da União e professores interessados, especializando, na área da surdez, profissionais de todo o Brasil.

O Colégio de Aplicação do INES atende da Educação Infantil (Educação Precoce, Maternal e Jardim) ao Segundo grau e mantém um curso noturno de Educação de Jovens e Adultos.  Que atende a jovens acima de 18 anos, da alfabetização ao segundo grau.

O INES possui regime de internato para crianças de 7 à 12 anos, tendo como critério de entrada a realidade sócio-econômica e a localidade residencial do educando. Além da escolaridade formal são desenvolvidas atividades complementares como: música, artes plásticas, artes cênicas, biblioteca, informática educativa, estudo dirigido e atendimento fonológico.
Mantém convênios com universidades, abrindo campo de estágio em diversas áreas, como Serviço Social, Fonoaudiologia, Psicologia e Pedagogia. Oferece também assistência técnica a outras Secretarias Municipais e Estaduais na capacitação de recursos humanos, cumprindo seu papel de centro de referência na área da surdez.

A partir de 1995 novas pesquisas vêm sendo desenvolvidas por profissionais da instituição, cujos temas são de relevância para o INES e para a comunidade acadêmica de todo o Brasil.

(Texto realizado pelo Departamento Técnico Pedagógico, Coordenação de Programas Educacionais e Divisão de Cooperação Técnica e Articulação Institucional do INES, parece ter sido distribuído em 1995, dedução pelo último parágrafo já que o documento não tem data e nem assinatura)


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