sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Produção coletiva em português

 Produção Coletiva em português

Nas aulas de Arte, para as turmas que estão aprendendo a escrever em português, é relevante ao final de algumas atividades, o exercício da escrita. Dependendo do ano, os alunos surdos se sentem inseguros em realizar redações individuais, por isso utilizamos a produção no coletivo (turma), em grupos, duplas e finalmente, no individual. Quanto mais disciplinas utilizar a escrita, melhor será para eles a organização da escrita na língua portuguesa. Abaixo segue uma produção coletiva sobre os desenhos realizados por eles. Após o desenho, pedimos que expliquem em língua de sinais os desenhos que fizeram e logo após escrevemos o que eles explicaram, resumidamente. A atividade foi realizada com uma turma de quarto ano, adolescentes.

Texto produzido em 2012: (os nomes dos alunos só serão apresentados por suas letras iniciais)

Eu,  F., desenhei coisas que eu gosto. Um computador para entrar na internet e no futuro trabalhar e comprar carro e celular. Eu, L., desenhei minha vontade de desfilar e estar na moda. Eu gosto da cor vermelha. Eu, R., desenhei coisas que eu gosto, passear e ver o grupo de Pagode. Gosto de passear com a minha namorada. Eu W., desenhei praia e muitos barcos. Gosto de casa e de sofás, do meu gato e ver TV, jogo do Brasil. Eu, F, desenhei o que eu quero comprar quando trabalhar. Eu gosto de passar com minha namorada no shopping. Eu, G., desenhei um relógio PIKA muito maneiro, porque ele mostra a hora de passear. Eu gosto muito de comer a comida da minha mãe, e eu tenho namorada. D. faltou hoje, mas o seu desenho mostra que ele gosta de beber Coca-Cola, passear e colorir com lápis de cor.

Após a construção do texto fizemos um simples exercício:

1) Complete:

1- G.                      ( ) desenhou um computador.

2- W.                      ( ) desenhou um relógio.

3- F.                       (  ) desenhou um gato.

2) Complete a frase:

a) L., eu gosto da cor ................................

b) R., eu gosto de passear com a minha .................

c) F., eu gosto de passear com a minha ................ no shopping.

d) D., eu gosto de beber ................

 



domingo, 27 de setembro de 2020

Iluminuras - A Arte nos livros

 Iluminura é um tipo de pintura decorativa aplicada às letras capitulares dos códices de pergaminho medievais. O termo aplica-se igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média.



Este projeto é uma introdução e um momento inicial de sensibilização para a introdução de letras decorativas e letras utilizadas na arte e no desenho geométrico, que são as letras bastão. Foi realizado com alunos surdos e adolescentes, porém com pouco conhecimento de mundo. Abaixo, seguem alguns jogos para trabalhar os elementos simbólicos associados a Idade Média.



 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Projeto o Voo do Pássaro

 Este Projeto foi realizado com alunos surdos jovens e adolescentes em 2003, utilizando o acontecimento da nave Columbia que explodiu e matou 7 tripulantes. O surdo tem dificuldade para conhecer e entender o que acontece no mundo a sua volta. Como essa notícia gerou comoção, houve necessidade de esclarecer as notícias.

Para tanto, escolhi propor um projeto que trouxesse uma sensibilização para a construção da esperança. 

O Voo do Pássaro

Laurel Clarck lembra de quando era menina. Alta para a idade, magrinha, cabelos loiros e lisos. Bastante sonhadora, adorava ler e depois ficar imaginando países, gentes diferentes. Às vezes, imaginava-se um pássaro voando. O tempo passou. Ela cresceu, estudou física e medicina. Quando abriram a inscrição para mulheres astronautas, não hesitou, fez a sua.

Foi aprovada e selecionada entre as primeiras e escolhida para a viagem no ônibus espacial. Aprendeu a conviver com a falta de gravidade e com a dieta dos astronautas. 

Finalmente o grande dia chegou. Aquela maravilhosa sensação de leveza como se fosse um pássaro voando, fez lembrá-la dos dias de sua infância. A Terra é linda, a Terra azul a girar na imensidão do universo. Ela soube, então, que os sonhos se tornam realidades. ( Texto adaptado do Jornal do Brasil e do livro de Goés, Lucia P.)

-Interpretação do texto e sensibilização:

Antigamente as pessoas acreditavam que os deuses se comunicavam com as pessoas através dos sonhos. Há dois modos de sonhar, sonhar acordado, imaginar o futuro. E sonhar quando se está dormindo. Às vezes o sonho é bom, mas às vezes não. 

Responda: 

1- O que você mais gostou na história de Laurel?

2- O que isso combina com a sua vida?

3- Quais são os seus sonhos para o futuro?



 

OBS: Trabalhando com alunos surdos é relevante colocar atividades diversificadas tentando abordar diferentes aspectos do mesmo tema, para propiciar um pensamento mais flexível.

4-  A atividade plástica: a partir de imagem xerocada, o aluno deveria colorir livremente e desconstruir a imagem, para construir uma nova imagem. A partir da divisão da figura com tiras de 2 cm, deveria colar numa folha de papel A3, espaçando as tiras e colando da maneira que quisesse. Depois unir as linhas e colorir com as cores respectivas do desenho anterior. Uso do lápis de cor e hidrocor. O objetivo da atividade já diz tudo, a desconstrução da imagem e estímulo a flexibilidade. Muitos tiveram resistência em recortar o que já haviam feito.

 


 



 




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Sequência da árvore - 2017

Este Projeto foi realizado com alunos surdos de diversas séries. Seu objetivo final era a construção de uma Instalação Artística numa árvore que estava no Jardim da Biblioteca Museu do Instituto Nacional de Educação de Surdos. O Projeto tinha como tema a preservação ambiental e como foco a valorização da preservação das árvores e a sensibilização ecológica em relação a reutilização de materiais recicláveis, no caso a garrafa pet. O período era primavera e por isso foram confeccionadas a partir de garrafas pet, flores e corações.

A atividade aqui solicitada foi uma representação plástica através de desenhos, das etapas da montagem da instalação, isto é, as sequências temporais da mudança do local onde estava a árvore. Os alunos que desenharam também participaram da construção da Instalação, por isso tiveram experiência concreta destas mudanças e etapas. Na aula estas etapas foram apresentadas em sequência temporal em powerpoint. Porém, para facilitar aqui somente coloquei a sequência das fotos.


 








 

Abaixo seguem os desenhos e os comentários sobre os resultados:

1- Desenhos cuja representação se aproximaram das imagens do vídeo e sua sequência temporal. O primeiro acrescentou elementos não realistas no último quadrado. Por sua vez, o segundo se preocupou com os topos das árvores e se esqueceu do chão.


 








2- O Desenho abaixo representou a sequência usando elementos do vídeo mas de forma particular, sendo mais uma releitura pessoal, interpretação, do que propriamente a realidade do que foi visto.









3- Esses dois desenhos não conseguiram desenhar a sequência em 4 "quadrados" (4 etapas), finalizaram em 3 etapas, e no último criaram um desenho particular.
















4- Nos desenhos abaixo a letra A e B, não fizeram sequência alguma. Já a letra C, tentou representar uma sequência porém, não tendo nenhuma conexão com o que foi visto.

 A-









B-









C-








5- Os desenhos a seguir, não conseguiram fazer a sequência temporal. Alguns apresentaram os elementos que foram vistos como flores e corações, porém outros não fizeram relação alguma. Mediante este acontecimento percebi que é necessário determinar as etapas para a sequência, porque a representação de uma sequência não é natural. Ela precisa ser sistematizada e determinada para que ela apareça. Pelo menos com este grupo esta foi a minha conclusão. Sem essa determinação, o que sobressaiu foram os símbolos capitados por cada um, numa composição plástica individual e particular,  e não uma representação da realidade. Observa-se também, que o nível intelectual influencia o tipo de representação e leitura de mundo. E isso também ficou evidente em alguns desenhos. Com esta observação nas outras turmas, acrescentei os "quadrados" para amarrar a sequência temporal que aconteceu com a árvore.















quinta-feira, 9 de julho de 2020

Rosto Humano

Este projeto busca trabalhar o rosto humano e seus elementos através de processo artístico. Para o aluno surdo é de suma importância trabalhar as expressões faciais, já que o corpo é utilizado para a construção dos sinais (vocabulário) na Língua de Sinais.
Além de ser um ponto de apoio para as mãos o rosto irá mostrar as emoções, por isso é necessário que a criança comece desde cedo a perceber as diferentes expressões faciais e suas relações com as emoções e sentimentos. Os olhos, a boca e as sobrancelhas serão destaque neste processo.
Além disso, perceber todos os elementos e características do rosto pode, muitas vezes, fazer com que um ou mais de seus elementos possam ser usados como sinal identitário (como se fosse o nome da pessoa na língua portuguesa). Por exemplo, uma pessoa de cabelo ondulado poderá receber um sinal que a identifique por ter esta característica.

O Projeto Rosto Humano, o processo inicial: sensibilização, brincadeiras e a atividade artística.

1- Inicialmente é trabalhado as expressões faciais através de dinâmicas e jogos de montagem do rosto.
Atividade de expressões, cópia ou criação. Sensibilização com livros. Segue abaixo alguns exemplos:

 

  
  



2- Brincadeira com máscaras.





3- O livro "As Caras".
A montagem deste livro foi feita a partir de um molde de rosto e com medidas para dividir o rosto em 3 partes. O material para colorir pode ser qualquer um, mas para crianças menores evita-se a tinta, pela dificuldade técnica. O objetivo deste livro é mostrar a mudança dos rostos, fazer com que a criança perceba as diferenças do rosto humano. Você vai virando as partes recortadas do rosto e mudando a fisionomia. É para ser feito por toda a turma, e é necessário o molde do rosto para que todos fiquem iguais.

O Molde inicial era dividido em 4 partes, mas não apresentou praticidade, os alunos sentiram dificuldade. Por isso, optou-se em dividir em 3 partes. O que facilitou a execução do desenho do rosto. Abaixo estão alguns exemplos das páginas do livro, onde são demonstradas as mudanças a partir dos pedaços:


   





sábado, 27 de junho de 2020

O caminho

Para o primeiro ano ou alfabetização de alunos surdos, os conteúdos, normalmente, estão relacionados ao aluno e seu ambiente mais próximo, como por exemplo: identidade, família e parentes, amigos, escola, colegas, professores, entre outros aspectos. 
O Projeto "O Caminho" tem como objetivo responder a pergunta: - "Como você vem para a escola?" Vem de ônibus, carro etc...representando através de brincadeiras e desenho este processo e ambiente. A inclusão de objetos serve para a vivência, e para mediar a comunicação e entendimento, já que alguns ainda estão aprendendo a língua de sinais.

1- Inicialmente, é apresentado diversos objetos que serão organizados sobre a mesa da forma que quiserem. Demonstrando o trajeto de sua casa até a escola. E após a explicação pelo aluno do que foi feito, é incentivado o desenho deste trajeto no papel. Esta imagem demonstra o processo inicial, mas no quadro branco já existe a conclusão realizada por outra turma anteriormente. Acho significativo o registro em vídeo da explicação dada pelo aluno, para análise futura do professor.


2- Alguns exemplos de desenhos sobre este trajeto

 

 

3- Trabalhos realizados por alunos surdos com outras necessidades. Atividade com dobraduras destacando a casa e seu entorno. Detalhe da parte interna da casa (segundo andar).

 



















terça-feira, 23 de junho de 2020

Pequeno resumo histórico sobre o INES

O INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) foi criado no Segundo Império, período que se iniciou com o Golpe da Maioria, em 1840, e se prolongou até 1889, por ocasião da Proclamação da República. 

Em 1855. Hernest Huet, francês, chegou ao Brasil com a intenção de fundar uma casa de abrigo e ensino para surdos. Sendo ele portador de surdez congênita, aluno do Instituto Nacional de Paris, e acreditando que a deficiência auditiva não seria impeditiva para o processo educacional, obteve apoio para a criação do educandário. Auxiliado pelo Imperial Colégio Pedro II, conseguiu, mesmo que para funcionamento provisório, uma sala no Colégio Wassiman (Rua Municipal n.6, no centro do Rio de Janeiro), onde ficou funcionando o Instituto dos Surdos-Mudos com uma menina e um menino de, respectivamente, 12 a 10 anos. Essas duas crianças foram mantidas nesse colégio, mediante bolsa de estudos pagas pelo governo imperial. 

Por determinação do Imperador, ao Marques de Abrantes coube a tarefa de supervisionar os trabalhos de Huet e de formar uma comissão de pessoas responsáveis, a fim de promover a fundação de um instituto para educação de surdos-mudos. Esse fato ressalta a importância que o Imperador atribuiu à proposta de Huet.

Posteriormente, foi arrendado um prédio na Ladeira do Livramento n.8, na mesma região da capital, onde foi instalado o instituto. Somente em 1913 foi contratada a construção do atual prédio, projetado pelo arquiteto Gustav Lully, cuja inauguração ocorreu em 1915. O prédio, construído em estilo neoclássico, seguiu os princípios básicos da arquitetura em instituições oficiais federais, do início do século.

Para melhor compreendermos a proposta educacional de Huet, apresentamos o programa de ensino adotado por ele, em 1856: Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, leitura sobre os Lábios (para aqueles com aptidão) e doutrina Cristã. Neste programa, já se delineava a preocupação com o ensino especial, observando uma proposta oralista implícita nas disciplinas de Linguagem Articulada e Leitura sobre os Lábios. 

Essas abordagens ganharam força a partir de 1878, quando foi realizado o I Congresso Internacional de Ensino de Surdos-Mudos, consolidados em 1880, no II Congresso realizado na Itália, onde  o método oral era recomendado nos programas de ensino especial.

A proposta do oralismo, que emergiu deste congresso realizado em Milão, norteou toda a proposta curricular do INES, durante muitas décadas. Interessante observar que, sendo o INES uma escola só de surdos, a comunicação gestual, embora proibida, nunca deixou de existir.

A linguagem sinalizada, hoje identificada como língua, LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), teve sua gênese aqui no Brasil, no Instituto, desenvolvida na convivência entre alunos. A rigor, as discussões que hoje contemplam a escolaridade das pessoas surdas, são as mesmas de quase dois séculos. O que ficou deliberado no Congresso de Milão foi absorvido de forma radical por vertentes oralistas e, com muitas resistências, pela vertente dos métodos mistos.

No início da década de 50 o INES promoveu o primeiro "Curso de Formação de professores para Recuperação de Deficientes da Audição e da Linguagem Falada", na gestão da professora Ana Rimoli de Farias Doria. Esse curso é um marco na história da educação de surdos no Brasil, já que, anteriormente os professores eram autodidatas ou formados no exterior. A partir desta inciativa, os professores passaram a ter formação em educação especial.

No final da década de 70 a filosofia de Comunicação Total chega ao Brasil, oriunda dos EUA e influencia alguns profissionais da área. A constatação de muitas dificuldades na realização da escolaridade do aluno surdo, reconhecida pelo corpo docente, e a necessidade de superá-las, levou a direção do INES, em 1986, a desenvolver uma pesquisa com o objetivo de analisar a aplicação de diferentes alternativas educacionais, identificando assim a vertente mais adequada para a  escolarização dos alunos do INES. A Filosofia da Comunicação Total e o Método Audiofônico foram comparadas com a alternativa do Método Multisensorial utilizado no INES.

No relatório do período em que se realizou-se a pesquisa concluiu-se que as alternativas em questão mostraram-se bastante eficientes em seus resultados ressalvando apenas o fato de que as diferenças encontradas revelaram aspectos específicos priorizados no trabalho de cada uma.

 Em 1993, foi criado o GINES (Grêmio dos alunos do INES). A atuação dos alunos é bastante significativa, participando, inclusive, de instâncias deliberativas da instituição. Por sua vez, em 1994, foi aprovado o novo Regimento para a Instituição que passou a ser gerido pela Direção Geral com a participação de um Conselho Diretor. Ainda neste ano, em consonância com esse Regimento, foi realizada pela primeira vez eleições diretas para a Direção do INES.

Atualmente, o INES, através de estudos e reciclagem de seus profissionais, busca implementar a proposta educacional do Bilinguismo em um segmento de seu Colégio de Aplicação.

O INES tem como finalidade, além de promover a educação de pessoas surdas e a preparação e o encaminhamento para o trabalho, fornece subsídios à formulação da Política Nacional de Educação especial, realiza diagnóstico, adaptação de aparelho de ampliação sonora individual, avaliação periódica de seus alunos e da comunidade geral, faz avaliações audiológica infantil e Tonal (adultos), timpanometria e ganho de inserção da prótese auditiva. Realiza anualmente um curso de Estudos Adicionais (CEAD), oferecido a todas as Secretarias de Educação da União e professores interessados, especializando, na área da surdez, profissionais de todo o Brasil.

O Colégio de Aplicação do INES atende da Educação Infantil (Educação Precoce, Maternal e Jardim) ao Segundo grau e mantém um curso noturno de Educação de Jovens e Adultos.  Que atende a jovens acima de 18 anos, da alfabetização ao segundo grau.

O INES possui regime de internato para crianças de 7 à 12 anos, tendo como critério de entrada a realidade sócio-econômica e a localidade residencial do educando. Além da escolaridade formal são desenvolvidas atividades complementares como: música, artes plásticas, artes cênicas, biblioteca, informática educativa, estudo dirigido e atendimento fonológico.
Mantém convênios com universidades, abrindo campo de estágio em diversas áreas, como Serviço Social, Fonoaudiologia, Psicologia e Pedagogia. Oferece também assistência técnica a outras Secretarias Municipais e Estaduais na capacitação de recursos humanos, cumprindo seu papel de centro de referência na área da surdez.

A partir de 1995 novas pesquisas vêm sendo desenvolvidas por profissionais da instituição, cujos temas são de relevância para o INES e para a comunidade acadêmica de todo o Brasil.

(Texto realizado pelo Departamento Técnico Pedagógico, Coordenação de Programas Educacionais e Divisão de Cooperação Técnica e Articulação Institucional do INES, parece ter sido distribuído em 1995, dedução pelo último parágrafo já que o documento não tem data e nem assinatura)